20 de agosto de 2011

Estudos sobre folclore no Brasil: breve panorama

A palavra “folclore” foi criada, em 22 de agosto 1846, pelo pesquisador de cultura européia e antiquário inglês William John Thoms (1803-1885), para denominar um campo de estudos até então identificado como “antiguidades populares” ou “literatura popular”. Essa proposta foi publicada no jornal londrino “The Atheneum” e tinha como objetivo designar os registros dos cantos, das narrativas, dos costumes e usos dos tempos antigos. Thoms escolheu duas palavras de origem saxônica: “Folk”, que significa povo, e “Lore”, que significa saber, formando assim o “folk-lore”, ou a “sabedoria do povo”.  Com o tempo, a palavra foi sendo utilizada sem o hífen, tornando-se simplesmente “folklore” ou “folclore”, como foi usada no Brasil. Inclusive o dia do folclore – 22 de agosto – lembra o advento do conceito criado por Thoms. 

Folclore - Carybé

Nesse sentido amplo de “saber do povo”, a idéia de folclore designa muito simplesmente as formas de conhecimento nas criações culturais dos diversos grupos de uma sociedade. Em princípio, pensa-se o folclore a partir do conjunto de tradições culturais transmitidas, em geral, de forma oral e sem influência acadêmica, tais como as danças, músicas, manifestações religiosas, festas tradicionais, brincadeiras infantis, superstições, lendas, mitos, entre outras. Tem-se aí o contraponto entre a chamada cultura erudita e a cultura popular. Mas essa delimitação nunca é muito clara, pois onde começa e termina o folclore? Considera-se, por exemplo, a Festa do Divino uma manifestação do folclore ou cultura popular, mas o que pensar do desfile de escolas de samba?

Uma coisa que é clara é que o conceito de folclore e do que pode ser considerado folclore foi sendo modificado ao longo da história, de acordo com as discussões teóricas e vieses de várias linhas de pensamento. Para se ter uma idéia, no Brasil – no início do século XX – os estudos de folclore incidiam basicamente sobre a literatura oral, sobretudo a poesia popular, guiadas por correntes filosóficas e científicas vigentes na Europa.  

O musicólogo e folclorista brasileiro Renato Almeida (1895 – 1981) propôs uma aproximação com a Etnologia ou a Antropologia Cultural, onde o foco de estudo não fosse somente a literatura, mas outros aspectos da vida social e material, como o artesanato, as indumentárias, os instrumentos musicais e suas formas de execução, as danças, a culinária, etc. 

Mário de Andrade (1893 – 1945) também concordou com esta proposta, e buscou diálogo com as ciências sociais e humanas. Ele estruturou um curso de formação de folcloristas para orientar trabalhos de campo e criou a Sociedade de Etnografia e Folclore, que organizou um guia classificatório de folclore e propôs diretrizes para equipar museus de folclore. 

Em 1938, quando estava à frente do Departamento de Cultura de São Paulo, Mário de Andrade enviou um grupo de pesquisadores ao Norte e Nordeste para que registrassem, durante seis meses, os cantos e danças populares dessas regiões. A idéia era documentar com filmes, fotos e discos as manifestações encontradas por Mário de Andrade dez anos antes. Cada seção de gravação (aproveitada, também, para fotografias e filmagem) era antecedida por pesquisas orais, complementadas por registros mecânicos.  Consulte este riquíssimo acervo aqui.
Os Integrantes da Missão de Pesquisas Folclóricas:
Martin Braunwieser, Luis Saia, Benedicto Pacheco e Antonio Ladeira
mar/1938
Recife (PE) . Sem registro

Mais tarde, em 1946, Renato Almeida - que nesse momento era presidente do Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (IBEC), do Ministério do Exterior e vinculada à Unesco – criou a Comissão Nacional de Folclore  (CNF).

Luís da Câmara Cascudo (1898 – 1986) também se destacou como grande estudioso
e divulgador do folclore brasileiro, produzindo uma obra fundamental para os estudos etnográficos e antropológicos no Brasil. O seu Dicionário do Folclore Brasileiro   (de 1954) é referência mundial para qualquer estudo sobre o assunto.  

Em 1951, a Carta do Folclore foi aprovada no I Congresso Brasileiro de Folclore. Ela dizia entre outras coisas que "constitui o fato folclórico a maneira de pensar, sentir e agir de um povo, preservada pela tradição popular e pela imitação, e que não seja diretamente influenciada pelos círculos eruditos e instituições que se dedicam, ou à renovação e conservação do patrimônio científico humano, ou à fixação de uma orientação religiosa e filosófica" . Nesse documento registrou-se a definição do fato folclórico, elaborado com o consenso dos folcloristas brasileiros.  

Em decorrência das grandes transformações sociais e do avanço das ciências, nas últimas décadas, estudiosos da cultura popular propuseram uma releitura da Carta de 1951. Em dezembro de 1995, então, realizou-se o VIII Congresso Brasileiro do Folclore, em Salvador (BA).  Neste congresso foram atualizados os conceitos e considerou-se que: "o folclore é o conjunto de criações culturais de uma comunidade, baseado nas suas tradições expressas individual ou coletivamente, representativo de sua identidade social. Constituem-se fatores de identificação da manifestação folclórica: aceitação coletiva, tradicionalidade, dinamicidade, funcionalidade".   


Fonte: Biblioteca Virtual do Governo do Estado de São Paulo

Mais informações sobre folclore:

DVD sobre estudos de folclore:




Em busca da tradição nacional - 1947-1964 - inaugura a série Caminhos da Cultura Popular no Brasil e marca as comemoraçõees dos 50 anos do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, como forma de destacar o esforço de tantos intelectuais brasileiros para o estudo e a preservação das expressões populares.


A partir de fotografias, gravações sonoras e filmes reunidos desde 1940 no acervo da Biblioteca Amadeu Amaral, o vídeo narra não só história da instituição como também um pouco da memória dos estudos de folclore e cultura popular no Brasil, a fim de preservar o trabalho já desenvolvido e fazer dele suporte para o desenvolvimento e a continuidade de pesquisas e estudos na área.

DVD Na ginga do boi: cultura, educação e arte no Brasil.





Editado a partir das experiências do Lenço de Seda-CECAB em seus 33 anos de práticas, o DVD é uma contribuição aos agentes culturais e educadores que pugnam em prol da valorização da cultura e da identidade nacional e pela busca de uma educação assentada em nossas singularidades ancestrais.


Referências de sites:


  1. Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP) 
  2. Tesauro de Folclore e Cultura Popular Brasileira
  3. Revista Brasileira de Folclore
  4. Mário de Andrade: Missão de Pesquisas Folclóricas
  5. Comissão Nacional de Folclore
  6. Memória Viva: Luís da Câmara Cascudo
  7. Lenço de Seda - Cecab

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